Postagens

Mostrando postagens de julho, 2008

por Humberto Pereira, A questão da escolha em "O sétimo selo" e "O sacrifício"

Imagem
Há um oceano que envolve as relações entre cinema e filosofia. E, igualmente, Ingmar Bergman e Andrei Tarkovsky - dois dos mais importantes cineastas do século passado são donos de uma filmografia densa, que abre espaço para indagações filosóficas. Na obra desses cineastas dois filmes são particularmente marcantes: “O Sétimo Selo”, do primeiro, e “O Sacrifício”, do segundo. Os personagens principais desses dois filmes canalizam, por assim dizer, inquietações universais que são plasmadas na tela. Por isso, por conta da densidade com que os temas são apresentados -sem qualquer concessão aos imperativos do consumo, por exemplo-, são filmes que podem nos instigar a uma reflexão sobre nossas escolhas; sobre o modo como nos deparamos diante de uma obra de arte; sobre o modo como uma obra tem ou não importância para nossos sentimentos diante do mundo. Assistir a um Bergman ou a um Tarkovsky exige algo como um comprometimento com uma certa visão de mundo, com um certo padrão de cultura. E isso

Contardo Calligaris, o Passado

Imagem
Nada passa, nunca; tudo o que acontece é indelével, sobretudo em se tratando de amor "O PASSADO ", de Hector Babenco, estreou na última sexta-feira. O filme, que, antes disso, abriu a Mostra de Cinema de São Paulo, é inspirado no romance homônimo de Alan Pauls (Cosac Naify).Resumindo a história ao osso, para não estragar o prazer dos espectadores futuros: Rímini e Sofía se juntam muito jovens e se separam, amistosamente, depois de 12 anos. De uma maneira ou de outra, a relação que eles viveram não os deixa tranqüilos. Na saída do cinema, a conversa era animada. Os amigos (homens) achavam o filme tão apavorador quanto "Atração Fatal", de Adrian Lyne: para eles, Analía Couceyro, como Sofia, era mais inquietante que Glenn Close, justamente por parecer menos louca. Nossos objetos de amor talvez sejam sempre assim, familiares até o dia em que, na hora de uma separação, a própria paixão os torna totalmente estranhos. As amigas respondiam que a causa do problema era a fraq

Abbas Kiarostami, a Arte da inadequação

Imagem
Caderno Mais!, Folha de S.Paulo, 17 de outubro de 2004 "Fiz muitas coisas ao longo de minha vida e me servi de instrumentos diversos: a pintura, as artes gráficas, a publicidade, a televisão, o cinema, a fotografia, o vídeo, a poesia. Finalmente, fiz até mesmo teatro. E poderia acrescentar outras coisas a essa lista. Por exemplo, a certa altura de minha existência fiz carpintaria, quando decidi construir sozinho os móveis de minha casa, mesmo sabendo pouco sobre isso. Tudo isso, para mim, tem a ver com um problema de inquietude, com o fato de ter de sobreviver de qualquer maneira e reagir a um profundo sentimento de inadequação. Experimento continuamente a exigência de fazer qualquer coisa de novo para ser mais bem aceito. Muitos consideram que na vida é preciso estabelecer uma meta para encontrar o sucesso, mas eu não acredito que funcione dessa maneira. Talvez no mundo dos negócios ou no âmbito científico. Na arte, ao contrário, o aperfeiçoamento só pode surgir da inadequação.

Rubem Alves, Como a chama de uma vela

Imagem
Folha de São paulo, em 08/07/2008 Sobre a morte, por acaso haverá dois deuses, um de rosto maternal e outro com rosto de torturador? ALGUMAS PESSOAS TÊM a felicidade de morrer com a tranqüilidade de uma vela que se apaga repentinamente soprada por uma lufada de vento. Ela, a vela, estava segura e feliz, gozando sua chama que fazia o trabalho de luz. E, de repente, não mais que de repente...Não houve agonias nem dores. A chama morreu tranqüila. Como se ela, a morte, fosse uma mãe que coloca a mão sobre os olhos da criança para que ela se entregue ao sono...Acho que foi assim que aconteceu com dona Ruth Cardoso. Muitos anos atrás, um repórter perguntou ao então presidente Fernando Henrique: "Como é que o senhor gostaria de morrer?" Ele respondeu: "Dormindo..." Seu desejo se realizou na dona Ruth: ela morreu como se estivesse dormindo...Se, por acaso, houver entre meus leitores algum que, para se livrar do medo, deseje fazer amizade com a morte, eu aconselharia a leit

Baudrillard, Sobre o Destino

Imagem
"Eu gostaria de dar uma imagem do destino tomando-a emprestada do domínio da geografia: a divisão de águas - o famoso continente divide, a partir do qual, nos Estados Unidos, certas águas encaminham-se em direção ao Pacífico, e outras em direção ao Atlântico. Por essa divisão, em dado momento, dois elementos se separam, irreversivelmente, é o que parece, e jamais voltarão a reunir-se. A divisão é definitiva. Poderíamos dizer o mesmo do nascimento, que é uma separação definitiva. Alguma coisa toma forma de existência, alguma coisa não toma - e o que não nasceu ao mesmo tempo tornar-se-á o outro, e como tal permanecerá". O destino seria então, uma forma de separação definitiva, irreversível. Mas uma espécie de reversibilidade faz com que as coisas separadas permaneçam cúmplices. A ultramicrofísica fala simultaneamente da separabilidade e da inseparabilidade das partículas. Onde quer que elas vão, e embora definitivamente divergentes, cada partícula permanece ligada, conectada à

Louco.Eu?

Imagem
Po sfácio para Admiravel Mundo Louco Há exatos vinte e oito, hospedei meu cérebro neste corpo. Sepultei aquele ser até então abobalhado e imoto. Que avesso a sua originalidade, brincava de pique esconde, de bola de gude, de empinar papagaios. Que imaginou ter sido um dos sete anões, que acreditou na bela adormecida, em papai noel, que tentou por todas as forças conter-me. Os últimos dias que antecederam ao meu aparecimento, foram marcados por convulsões e experimentos escabrosos. Sabia, que outrora, tivera um “eu”, e que, a partir de então, seria apenas um objeto empanturrado de todas as drogas da solidão; as do mundo seriam fracas demais para me fazer esquecê-lo. Tendo agora me tornado um fratricida, teria ainda um lugar entre os homens? Trancafiado em minha mente, procurava domar as próprias feras, matar os monstros, libertar-me para renascer. O medo deste meu “outro”, tornou-me presa de mim mesmo, tal pensamento me paralisava. E o medo de concebe-lo, de avançar sem saber o passo seg

Descaminhos Educacionais

O ingresso às instituições de ensino superior, em noções desenvolvidas, é baseado no percurso escolar ao longo da construção do conhecimento por cerca de 12 anos da vida dos estudantes. Em nosso país, essa situação não deixa de ser seguida, apesar da situação do corte do vestibular, e mas recentemente, pela implantação por parte de algumas instituições pela aplicação do provão do ensino médio, como forma de avaliação do estudante e conseqüentemente o acesso ou não do candidato as instituições aqui citadas. O aproveitamento do candidato ao vestibular, não se restringe à possibilidade de ingresso na universidade. Também é um fator determinante no rendimento acadêmico do estudante, que por sua vez, abre as portas no mercado de trabalho, este cada vez mais exigente quanto ao coeficiente de rendimento de seus solícitos. Posto isso, me permito ser remetido até o século XII, onde foram pelos próprios estudantes criadas às primeiras universidades, que funcionavam como uma espécie de comunidade

Desespero D'alma

Imagem
Por Nathália... ...Acordei cedo. Quase não dormi. As visões ainda permanecem vivas. Sobressaltado e atormentado, prossigo em meu caminhar. Sou fruto de minha angústia e de minha inquietação. Carrego comigo este desassossego, há muito não me surpreendo. Conto as horas, e, através dos dias infindáveis, arrasto-me pesadamente. Sofro, e, se tudo isto não bastasse, sofro ainda mais pelo meu povo, pelo meu país. Como desejaria ver meu povo sorrir! Dos campos e favelas, uma nova raça eu desejaria ver brotar, sobre os muros, uma festa coletiva, um ritual jamais visto eu desejaria ver. Uma grande festa de cores e credos, e, a liberdade de fato, a reger este triunfal renascimento. Hoje, pude enfim constatar, que serão necessários outros tantos anos para a cura definitiva. A dor que carrego transborda meu ser. Por toda vida estive, e, ainda permaneço mergulhado neste vazio. Deflorado em meu pensar, Devoro o verbo pelo prazer do verso. Destruo a métrica com esta minha tétrica. Vingando o passado,