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Mostrando postagens de agosto, 2008

Albert Camus: fragmentos de "O Mito de Sísifo"

Os deuses condenaram Sísifo a empurrar incessantemente uma rocha até o alto de uma montanha, de onde tornava a cair por seu próprio peso. Pensaram, com certa razão, que não há castigo mais terrível que o trabalho inútil e sem esperança. Se dermos crédito a Homero, Sísifo era o mais sábio e prudente dos mortais. Mas, segundo uma outra tradição, ele tendia para o ofício de bandido. Não vejo contradição nisso. As opiniões diferem sobre os motivos que o levaram a ser o trabalhador inútil dos infernos. Censuram-lhe primeiro certa leviandade com os deuses. Ele revelou seus segredos. Egina, filha de Asopo, foi raptada por Júpiter. O pai estranhou seu desaparecimento e se queixou a Sísifo. Este, que estava sabendo do rapto, ofereceu-se para instruir Asopo, com a condição de que ele desse água à cidadela de Corinto. Preferiu a bênção da água aos raios celestes. E como castigo acabou nos infernos. Homero nos conta também que Sísifo havia acorrentado a Morte. Plutão não pôde suportar o espetáculo

Paisagens

Ao longe pela negrofunda rua O tempo de tempo Em tempo aflora afora Coberto por neblina Longe vai outono pálido De negras chuvas sobre o porto De frio morro É inverno de dor padeço No bosque ao longe Que jaz aos meus pés A flor – floriu De primavera na manhã pela Qual vagava ouvindo doces cânticos No verão verás tenho sede E de sede em sede Beberei o azul do céu Assim espero o fim Assim apodreço Para o sono da morte Viver é bastante. Outono 2008