Navegando pelo Letes

Ando sentindo a violência das correntezas do Letes. A cada nova reflexão sinto-me destronado e lançado as profundezas da inquietação. Quando tomado por tal desassossego, dispo minhas realidades em pró da criação de momentos únicos e imediatamente busco a expansão do sonho desarranjado.
Jamais imaginei se quer pensar na possibilidade de uma desgraça coletiva tão imensurável como esta que estamos vivendo nestes atuais e fatídicos dias. A civilização, em especial nosso povo, anda tentado a verdadeiros atos inconseqüentes e por conta disso vem sendo conduzida da forma mais esdrúxula e insensata possível.
O esquecimento tornou-se uma doença coletiva, de origem imagino eu, brasileira. Nossa civilização há muito deixou de repensar fatos determinantes. Se observarmos quase nada neste país é contínuo, o cotidiano de fato não nos remete a tais reflexões. A busca do nada do nada sobre o nada, hoje é a principal tese defendida por nossa sociedade, a facilidade que temos para produzir líderes e imediatamente substituí-los é algo de espetacular, a cada momento surgem novos e verdadeiros heróis, em todas as camadas da sociedade esta multiplicação se faz presente. Inda pouco o líder aclamado e eleito de ontem, no dia de agora, foi substituído pelo novo galã herói, malhado e de olhos azuis saído das telas e conseqüentemente apontado para as próximas eleições, e todas as noites sobe aos palcos com a condição de, se eleito for, elaborar projeto em favor da prorrogação do horário da novela das 8.
Dos grupos de pagode (lindos e oxigenados), dos bailes funk (cachorras e popozudas), dos presídios (lideres de facções), dos templos (novos deuses?), do futebol (artilheiros e bad boys), dentre tantos outros segmentos, vão surgindo e se multiplicando os verdadeiros “líderes”. Os sábios de outrora, que em seus discursos arrebatavam milhões, e por conseqüência disso, estabeleciam todas as condições para reflexões, revoluções e expansões, de forma a criar elementos verdadeiros e de interesse dos povos, nos dias de hoje, estão sendo substituídos por aquilo que classifico de “cultura da banalização”. Seria essa a nossa futura liderança e referência?
É de fato o Letes vem emergindo de forma violenta, e a força de suas águas vai abrindo afluentes e nos arrastando rumo a este enorme vazio que presenciamos e em muitos casos contribuímos. Temo por nossas gerações futuras, o que de fato ainda pode-se fazer para reavivar e perpetuar esses 500 anos de nossa história?
O que de fato nossos governantes, sociedade e instituições vêm fazendo no tocando a criação de novas e verdadeiras lideranças?

Letes = nome dado ao quinto rio do inferno. Também conhecido como o rio do esquecimento.

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